Juliana Licio
os passos não serão mais apressados
quero ir bem devagar, ver o tempo passar
sentir a brisa no rosto, câmera lenta
novos sonhos, outras paisagens
a música fala de um lugar incomum
eu penso em coisas comuns
a preguiça pede licença, invade
tiro o tênis, chego na beira do lago
meu reflexo, claro e transparente
penso na simplicidade, nas máscaras usadas
todos nós temos medo da verdade
deito na grama, o silêncio, o domingo
capítulo de livro, comida pronta e congelada
as folhas das árvores caem, as nuvens do céu vão
vem a fila de carros após abrir o sinal
o vermelho, o verde e o amarelo
o azul da vasta imensidão, despeço-me
o sol se esconde no horizonte
a lua desponta sobre a minha cabeça
e não está só, eu e as estrelas
não estou só, a lua, as estrelas e as lembranças
para mais uma Juliana: um domingo no parque
com um desfecho feliz
Juliana Licio
nessa imensidão de não sei o quê
que já foi tão bem definida por você
vivo intensamente...
nossa história nunca me deixará te esquecer
pois é impossível me perder de você
e são tantos motivos..
muitos abraços e beijos
algumas, muitas, brigas também
no início, as tempestades
depois, muitos dias de sol, praia
surge o companherismo
e com ele muitas confissões, declarações e pedidos
uma infinidade de cartas, poemas, bilhetinhos, livros
o perdão, sempre (me) desculpa e compreensão
o coração, a esperança, as fotos e as viagens
as nossas conversas, nossas loucas teorias
as nossas ideologias e bobagens
a grande vontade de melhorar o mundo
a nossa pureza de alma, a infância adormecida
espero que continuemos confiantes
penso nas nossas discussões, nossas opiniões tão diferentes
a sua implicância de sempre, a obsessão pela verdade
a competição e a minha exigência de igualdade
gostos diversos, espero que continue paciente
lembre-se, sempre, do meu chocolate preferido
onde estarão as minhas rosas vermelhas?
assim descobrimos muitos caminhos
paisagens, cores, sons, mar e mato
hoje, estou aqui diante do céu que contemplamos
ouvi as nossas músicas favoritas
não foi incomum, o amor é intenso e a distância me sufoca
conclusão: sinto muito a sua falta...
Juliana Licio
a névoa envolve tudo
o cobertor envolve o corpo
na televisão o vazio
na cama o espaço
os passos apressados
sinal para o ônibus parar
o tempo corre
meus pensamentos vagam
na volta, um momento de distração
o filme esperado em cartaz
e a fila para comprar o bilhete
desisto... amanhã tem promoção
penso na reunião de terça
no projeto que era para ontem
nas viagens programadas
no encontro esperado
o vapor do banho quente
palavras para aquecer o coração
novas meias para proteger os pés
procuro o novo padrão de referência
encontro alguém para conversar
sempre é bom ter notícias
será que consigo trocar aquela passagem?
não... não compensa
no final da noite... o programa da cultura
o silêncio invade quarto
não me hesito e ligo
saudades destas mesmas partidas de war
penso que ele esteja sentindo frio
vem a dúvida: o que fez com os casacos e as blusas de lã?
lembro da minha coleção de cachecóis
e pensar que não os usaria mais...
inúteis formas de lembrar
mais um dia, falta pouco
os locais serão outros, mais pessoas
mais sorrisos, música alta, amigos
outra maneira de encarar o dia
o inverno não é o mesmo em todos lugares
Juliana Licio
(Por Fernando Pessoa)
"Ó noite onde as estrelas mentem luz
ó noite, única coisa do tamanho do universo
torna-me corpo e alma, parte do teu corpo
que eu me perca em sua mera treva
e me torne noite também
sem sonhos que sejam estrelas em mim
nem sol esperado que ilumine meu futuro"
Juliana Licio
Sei que é difícil partir, mas partirei.
A dor que que sentirei será só minha.
Não a dividirei com ninguém.
Na minha vida tudo é sempre assim.
As coisas não se estabelecem de ordem natural.
Salve a inconstância! As notícias nos jornais mudam.
Tudo sempre muda...
Meu Deus! Ainda bem que mudo sempre que preciso.
E que certas coisas mudam para melhor, sempre.
Por isso: entrego-me às mudanças e sei que continuo egoísta.
Eu, eu, eu, eu, eu...
Bom, pelo menos assim, as partidas doloridas serão somente minhas.
Juliana Licio
mãe me quer feliz
bem me quer me diz

mãe me quer na paz
bem me quer me traz

mãe me quer amando
bem me quer sonhando

mãe me quer bem
bem te quero mãe
Juliana Licio
A barreira que nos separa é muito menor do que eu imaginava.
Fico feliz por isso, posto que é um período de adaptação.
Quando digo que terei que ir, eu fico sem palavras.
O companheirismo e as descobertas são mútuas.
Porém a iniciante sou eu.
Ali meu diploma de graduação é um simples papel.
As disciplinas utópicas, a teoria não tem importância.
O diálogo não é verbal e sim, olho no olho.
O abraço é sincero e o aperto de mão firme.
Para todo bom entendedor um pingo é letra.
Às vezes me sinto tão perdida, como uma daquelas estrelas que contemplo à noite.
Outras vezes, me sinto muito bem inserida naquele contexto local.
Evito, porém, comentários e conclusões.
Algo não válido para pessoas que não se importam com perspectivas.
Ao contrário são reflexo da naturalidade.
A alma é boa, a arte é escancarada.
Um complexo e significativo sistema a ser desvendado.
Não é tão simples comprender o mundo tão diferente do meu.
Pois o meu mundo é muito pequeno e simples perto do deles.
É, meus valores precisam ser realmente aprimorados.
Assim reafirmo e aprofundo os meus ideais.
E os dias passam com uma velocidade assustadora.
Entristeço-me, é difícil aceitar o outro como ele é.
Alegro-me, mais difícil é ser aceito quando você simplesmente não é.