Juliana Licio
Ele:
_ Não me abandona...
(o "não" atrai o "me" para a sua proximidade, de modo que se sou o NÃO, seja o meu ME)

Ela:
_ Me não abandono.
Juliana Licio
eu não sei aonde colocar as minhas vírgulas!
eu não sei, aonde colocar as minhas vírgulas?
eu não sei aonde colocar as, minhas, vírgulas.
eu, não sei aonde colocar, e as minhas vírgulas...
Juliana Licio
durante anos, a menina cultivara seu jardim. foi nele que ela plantou suas flores preferidas. apesar dos matinhos indesejáveis que apareciam, de vez em quando, ela era feliz. eu a achava feliz. durante anos, ela molhou a terra, podou as roseiras, espantou as formigas. durante anos, ela cuidou das hortências. talvez a sua intenção fosse ter o mais belo dos jardins. ou só não ver o tempo passar. um belo dia, foi tudo diferente, a menina não apareceu. havia desistido de tudo, não queria mais cuidar do jardim. ela escutara a lenda de um tesouro e estava disposta a procurá-lo. ela não sentiu culpa, não sentiu arrependimento. numa bela tarde de sol, olhou para as flores e foi embora. o tempo havia passado, a menina não era a mesma, o jardim não era o mesmo. os dois estavam crescidos. a menina, eu nunca mais vi. do jardim, alguém logo tratou de cuidar. ocupar o espaço. eu acho que a busca pelo tesouro continua. mas, pela cidade, muitos outros jardins têm aparecido.