Juliana Licio
Ela sofria. Depois de tanto tempo, ao lado dele, era difícil voltar a rotina. Essa rotina não existia mais. Além de fazer parte dela, ele também já fazia parte dos seus dias. E a rotina agora era outra. Um café no meio da tarde, um passeio pelo parque, um restaurante diferente ou um capítulo de novela. Ela acostumou em tê-lo por perto. E as coisas mais comuns, como o preparo do almoço ou o pedido de comida pelo telefone, haviam se tornado prazerosas. Ela tinha uma companhia. Ele, alguém para dividir os problemas e as alegrias, conversar durante o banho, acarinhar durante as madrugadas de insônia. Eles ensaiavam para a vida. Uma vida e os dois. Ela tinha saudade de um beijo, o dele. Ela queria sentir o seu abraço, afogar em seus braços sem nenhuma razão. Ela o desejava de forma egoísta, mesmo sabendo que não existia posse ou controle a respeito do que sentia. À distância, ele a desejava e também sofria. Algo que não poderia ser explicado, somente, pelos quilômetros que os separavam. Existia entre os dois a impossibilidade de estarem juntos, mesmo que fosse por enquanto, e isso era ruim. Mas a lembrança que um trazia do outro amenizava a saudade. Eles se falavam todos os dias, mas isso trazia angústia. As palavras pronunciadas não denunciavam a falta. Ao telefone, as palavras eram cerradas. Um resumo do dia e um minuto de contentamento. Na maioria das vezes, num ato desesperador que tentasse compensar a saudade que provocava, ela dizia: eu te amo, muito e sempre. Ainda ao telefone, após segundos de um silêncio desesperador, ele respondia: eu também. E assim, ela o confortava daqui e ele a confortava de lá.