Juliana Licio
Tem dias que o mar revolto repousa
Com as águas mais calmas
Disponho-me a navegar
Cruzo os mares, enfrento as correntezas
Venho à tona respirar.

São nestes dias de calmaria
Que o mal se aproxima
Eu, peixe-distraído, corro perigo
Sou peixe-livre, acelero o nado
Não escuto os sinais e sigo.

A minha distração é o pior dos meus defeitos
Não vejo a aproximação, não ouço o movimento
Em minha direção, cortando o vento
A rede cai e me atinge bem no peito.

Contra mim, a armadilha lança seu peso
Condenado, tento escapar em vão
Eu, peixe-livre, agora sou peixe-preso
Cumpro pena por seguir meu coração.



Juliana Licio
A Amazônia é um lugar para vivenciar. É um lugar para se redescobrir. Estar na Amazônia e respirar seu ar é fundamental, principalmente quando se quer refletir sobre o real significado da própria existência. Foram dias pelo rios, foram horas além das montanhas, um tempo que não se repetirá. E tenho certeza que esta minha primeira impressão será sempre inesquecível. Você pode reclamar do lanche que tem que comer na rua, da programação que passa na televisão, que o seu chuveiro não esquenta direito nos dias de inverno. Você pode sentir raiva, insatisfação, infelicidade. Ficar chateada no trabalho ou gostar de ouvir sua música em paz. Quero te contar que valorizei tudo, as coisas ruins e boas pelas quais já atravessei nesta vida, quando simplesmente abandonei tudo para descobrir uma outra vida: sem lanches de esquinas, sem televisão, sem chuveiros, sem rotina. Esqueci também o tempo e o que ele me significava. Preparei-me para o desapego, para o respeito, para aprender. E aprendi. Aprendi a ouvir o canto do pássaro, o canto das crianças, os gritos dos meninos que jogam futebol. Na verdade, é impossível transmitir a vocês o que a Amazônia me acrescentou durante três meses de viagens pelos lugares mais lindos e desconhecidos do Brasil. À Amazônia, deixo registrado o meu mais profundo agradecimento.